28 agosto, 2007

Debate da TV Pública Digital - Salvador de 23 a 25/08


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From: giulianodjahjahbonorandi
Date: Aug 28, 2007 9:43 AM
Subject: [estudiolivre] Fwd: Debate da TV Pública Digital

Relato da Ivana Bentes sobre o seminário em salvador....


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From: Direção da ECO
Date: 27/08/2007 21:26
Subject: Debate da TV Pública Digital

Caros, segue uma síntese de algumas questões relevantes que foram discutidas
no Seminário da TV Pública Digital em Salvador de 23 a 25/08 que participei
representando a nossa Escola. Participaram dos 3 dias de intenso debate, com
transmissão ao vivo pela internet, produtores independentes, diretores de TV,
professores universitários, cineastas, Ongs, gestores, o ministro das
Comunicações da Casa Civil Franklin Martins, o secretário do audiovisual
Orlando Senna, representantes das TVs universitárias, comunitárias,
radialistas, jornalistas, empresários do audiovisual, enfim um grupo
heterogêneo e diverso.

1) Em todas as mesas se defendeu que a TV Pública digital deve se
constituir como uma rede horizontal, e uma rede colaborativa aberta, uma
"rede de redes", descentralizada. O modelo de gestão foi o mais discutido,
pois ainda está se configurando, mesmo que a proposta seja que a TV Pública
entre no ar em dezembro. A idéia de uma rede de redes é decisiva, pois
mesmo que inicialmente tenha como referência a TV Brasil (fusão da TVE com a
Radiobrás) a proposta é criar as bases para uma rede "horizontal" reunindo
mais de 200 emissoras de TV dos sistemas público, comunitárias,
universitárias, estatais, privadas com fins público, enfim tendo como
horizonte um pool dessas redes super heterogêneas, com troca de programas e
abrindo para a produção independente (quem produz e não tem emissora para
exibir). Tal fato é inédito no Brasil. Nunca se pensou uma rede com tal
alcance e diversidade.

2) A base tecnológica será feita a princípio a partir da fusão da atual
estrutura da TVE com a Radiobrás e mais uma base em SP. É essa a base
material, o ponto de partida, a TV Brasil, que será seguida imediatamente
pela criação de outros canais públicos, com gestão pública: os canais da
cultura, da cidadania, da educação e os canais estatais (TV senado,
Câmara,etc.). Ou seja, a rede pública que é uma malha enorme e diversa vai
ser articulada nessa "rede de redes". A TV Brasil na nova configuração terá
um novo diretor e um conselho (com participantes da sociedade civil), o que
já causa especulações e polêmica, questão menor, no meu entender.

3) O melhor do seminário. Muita gente pensando a questão das redes
colaborativas, da descentralização, da TV colaborativa, como a garotada que
apresentou o site Fiz (tipo You Tube) que agrega conteúdos livres e a
aceitação desse modelo das redes colaborativas como o horizonte natural da
TV Pública digital brasileira pelos jovens gestores do governo (Minc e SAV).

4) Também a necessidade de uma Internet Pública apareceu fortemente. Essa
também foi parte da minha argumentação nos debates, para combater uma
Mídia-Estado (que se porta como Estado) não precisamos de um Estado nem Tv
centralizadora, mas aumentar a produtividade social, ou seja fortalecer as
redes existentes e incluir novas redes nos sistemas de Comunicação. Também
os grupos que estão fora da TV não querem mais simplesmente ser
"representados" na TV (periferias, p.ex.) querem um canal de TV, querem
fazer TV, o que já é possível com a TV IP na internet e será na TV aberta,
com as multi programações trazidas com o digital.

5) Também recorrente, a análise de que temos uma Mídia-Estado privada que
"vende estabilidade política", sua moeda de troca para defender seus
interesses. Levantou-se a questão e a importância da rede blogueira hoje
na internet, como contra-discurso. Também defendi no seminário o que chamo
da produção "doméstico-industrial", em que a produção "amadora" ou
"não-profissional" ganha relevância e desmistifica a idéia da exclusividade
da produção audiovisual e midiática feita por "profissionais". É só olhar
para o You Tube, Wikipedia, redes colaborativas, etc. Falou-se o tempo todo
da necessidade da TV Pública digital já entrar com um braço na Internet,
convergindo TV e Internet públicas.

6) Defesa dos conteúdos abertos, sem bloqueio para gravar. O Jornal O Globo
já saiu com texto na página dos Editorias, de domingo, dizendo que "Tv
Digital ameaça conteúdo brasileiro", fazendo campanha para impedir que o
telespectador grave os programas! O que é um atraso em termos de
democracia e da livre produção e circulação do conhecimento.

7) Veremos a grande mídia detonar o projeto da TV Pública Digital como fez
com a Ancinav e com as políticas públicas que poderiam abrir os sistemas de
comunicação para uso comum, público e com horizonte de universalização
desses serviços? Afinal, a mídia e os produtores de conteúdo somos nós, no
pós digital e internet. O que está em jogo é um pensamento inédito do Brasil
do que é Público. É a possibilidade de tirar do sucateamento as TVs
públicas, estatais, comunitárias, universitárias e abrir novos espaços para
produção independente, para o cinema brasileiro e para novas linguagens.

8) Aliás, essa é um dos grandes acertos do processo, presente na fala de
Orlando Senna. A decisão que 80% da produção da TV Pública Digital será
feita de fora (não pelas próprias emissoras). Ou seja, a TV Pública digital
vai abrir Editais públicos para novos programas de TV, numa proposta de
renovação inédita da programação. Provavelmente não será de imediato. Vai
começar operando com um pool de programações regionais, vindo do Brasil todo
e abrindo para as novas programações.

9) Inovação, experimentação, sair da "chatice", sair dos dualismo ou é
cultural ou comercial, ou é chata sem audiência ou de entretenimento, ou é
política ou lúdica, essa também foi uma das questões mais discutidas. Novas
mídias, games, interatividade, novas linguagens, estiveram entre as
diferentes falas e alguns projetos já existentes nessa linha foram levados
para debate. A questão de formar e construir audiências, aos invés de
"vender audiência" como faz o sistema de TV privada que naturaliza a
audiência, como se fosse um 'bolo' natural e imutável, foi também tema do
pessoal que trabalha com estudos de recepção.

Enfim, um panorama animador, apesar das grandes dificuldades de se
operacionalizar tudo isso.

Um abraço, Ivana Bentes


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